Estou indo embora.
Muito do que eu tenho já se foi.
Lembranças, amigos, parentes e companheiros de jornada já se
despediram e se despiram desta personagem difícil de identificar e impossível de
classificar adequadamente, mas é assim mesmo que as coisas acontecem.
Até mesmo aqueles lugares que eu sabia exatamente onde existiam,
já não existem: a garagem do Cometa, o zoológico embaixo da ponte, a casa em
que cresci e brinquei.
O prédio da escola Baltazar Fernandes demolido, a guarita
com um guarda comandando, imponente, o trânsito para atravessarmos com
segurança a movimentada rua central, já se adiantaram e se foram.
A pequena cidade cresceu, o emprego sumiu, a empresa, se não
fechou, mudou de estado. Tudo fechado!
Mas, nem tudo é perda. Ganhamos esposa, filhos, quilos e novos
empregos. Empresas vêm, cabelos vão, salário vem, contas novas também...
O peso das palavras, tão aguardadas, com muita atenção
degustadas, agora são ruídos preenchendo o vazio das importantes conversas com
ideias controversas e sem nenhum espaço de câmbio para que se adentre a elas.
Quanto mais eu caminho menos coisas me acompanham. Tenho
muitas coisas, mas já não as carrego.
Algumas carrego no coração e, dele, nunca sairão.
As que carrego no bolso desaparecerão tão rapidamente quanto
o troco que nem me lembro onde coloco.
Já não vejo muitas coisas ruins, ...nem boas, depende do
grau dos óculos.
Assim, também, já não escuto tantos insultos e, até que não
é muito ruim, a não ser pela falta de elogios e palavras carinhosas do começo,
que se ouvi-las, já não as reconheço, nem sequer as mereço.
Sou o mesmo, sempre fui e sempre serei, mas nunca serei o
mesmo que fui, e amanhã serei o que nem sei, é complicado.
Complicado é achar as chaves, organizar as gavetas de roupas
e lembrar das senhas.
Complicado é achar as palavras, organizar os pensamentos e
lembrar dos bons momentos.
Bom, mas vou encurtar, pois já chega o momento.
O momento de parar de escrever, e retornar a viver.
Como os assuntos de muito longe já não lembro, tenho que viver
o hoje para ter do que me lembrar amanhã.
Mas, e o amanhã?
Nunca existiu e nunca existirá. O amanhã é um grande mistério,
pois não existe e, quando vier a existir, já será hoje.
E o hoje é uma infinita sucessão de pequenos “agoras” mais
voláteis que o mais volátil dos elementos.
Vou usar o meu pequeno “agora” para finalizar este texto, e,
uma coisa eu não vou poder usar de pretexto: todos tivemos o nosso tempo...
O que fizemos, ou não fizemos, não vai fazer a mínima
diferença se não houver amanhã, mas haverá.
Amanhã nos veremos. Até amanhã!
O amanhã é o maior dos dias e, creio que é o melhor de
todos.
Não espero levar muita coisa para o amanhã, mas espero
deixar muitas coisas no presente, exemplo: espaço, oportunidades, valores e
saudade.
Até breve!
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