O BARULHO DO PORTÃO




Não existe maior dom, 
aos homens concedido, 
que a existência da vida,
E, esta imerecida.

Podemos tirá-la, 
torná-la prazerosa ou, 
de graça desprovida.

Mas não podemos criá-la 
ou transferi-la, 
ainda que por um pequeno dia.

E, o Senhor de todo o universo
nos dá, com extrema alegria
o dom de formá-la, 
não, de matéria estranha, 
Mas com um pedacinho de nós, 
em nossa entranha.

Um dia, que grande surpresa! 
Em um momento particular da Criação, 
Disse o Senhor: Haja luz!
E houve a sua concepção.

E Deus viu que a luz era excelente.
E, eu vi a excelência da luz.
Nasceu meu filho, meu ente, 
e me fez pai sorridente,
Qual palavra alguma traduz.

E me fez alguém.
Alguém que seria analisado. 
Seria amado. 
Seria imitado.

Sem ele, eu seria, apenas, eu. 
E, foi especial o que aconteceu, 
agora, não mais o singular,
mas, "nosso", o coletivo de “meu”.

E, nós fomos crescendo.
Ele como filho e, eu, como pai.
Sua mãe, antes do ai,
com profundo amor, 
não o deixava sentir
nem fome, nem dor.

Tudo andava bem, 
crescia, corria, 
brincava também.

A multidão de abraços, 
não nos cansava os braços, 
e, em todo o momento, 
éramos vistos como exemplo.

É muita responsabilidade!
E, crescendo com a idade.
E, em um plano perfeito,  
Que belo presente!
Foi feito adolescente.

Rapidamente ele cresceu e,  
Como um regalo do tempo,
Agora, ele era o meu exemplo, 
e não mais, eu era o seu.

Continuando, cresceu, cresceu, 
trabalhou, trabalhou, 
Que orgulho nos deu!

Quando o coração falou mais alto, 
como, comigo, aconteceu,
Deu um salto para a vida,
O amor lhe convenceu.

A um salto incalculável.
e isto não o arrefeceu,
Deixou nosso regaço, 
foi para outros braços. 
se casou e feliz viveu.

Trabalhando atarefado.
foi olhando p´routros lados,
Os exemplos, de outras vidas, 
novos modelos contemplou.

Outros pensamentos, 
outros conceitos, 
tudo, então, se conturbou.

Palavras rarefeitas, 
ideias conflitando.
O portão sempre se abria, 
mas logo estava voltando.

Novos planos, ou enganos, 
nunca, nós, nos enganamos.

Ainda que o inesperado, fosse cogitável.
O indesejável, tolerável.
O inimaginável, fosse suposto, 
não perfazia o nosso sonho
Ou, até mesmo, nosso gosto.

E, o portão, novamente se abria. 
E, era grande a alegria.

Os ventos assolaram: inesperado.
O desacordo penetrou: indesejável.
O distanciamento ocorreu: inimaginável.

Separação, insuportável, 
mas uma realidade, 
que apesar da pouca idade, 
todos fomos vitimados.

Cada um para o seu lado.
Não mais risos. 
Não mais barulhos. 

Tudo quieto; Tudo sombrio; 
Nem um piu, tudo sumiu.

Mas, uma coisa nunca muda, 
e, nunca vai mudar.
Ainda que eu me canse, 
me canse de esperar
e, o meu corpo vá ao chão, 
não consiga levantar.

Se meu Deus me conceder 
o último respirar, 
na derradeira batida, 
pondo minha artéria a pulsar,

Ainda que não venha mais a falar, 
nem demonstrar qualquer emoção,
Eu nunca deixarei de esperar,

Ouvir o barulho do portão.


Cesar Augustus Pereira de Paula
Sorocaba, 15 de agosto de 2016

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