A MENINA E A CAIXINHA DE FRUTAS



Em uma pequena casinha, no meio de uma linda floresta, habitavam uma doce menina e seu irmãozinho caçulinha.

Sem pais, sem amigos, sem companheiros, e, por circunstâncias da vida, sozinhos, ali, sobreviveram.

Mas, não eram tristes, até pelo contrário, muito se divertiam: contavam histórias antigas, relembravam cantigas, tudo sem choros nem brigas.

E, os tempos eram bons...

E os dias se passaram e os irmãozinhos iam crescendo, novas coisas iam fazendo e receitas aprendendo, mas, já não era igual.

- Onde estão as frutas do quintal? Exclamou a irmãzinha.

Não havia tantas frutas, começava grande luta: - Como vamos nos manter?

Com receitas pequeninas, preocupava-se a menina, não havia o que comer.

Mais e mais foi se arriscando e na floresta foi entrando, um pouco aqui e um pouco lá, o alimento encontrando.

Mas, não era como antes tendo as frutas bem pertinho, na floresta tinha fruta, é verdade o que eu te digo, mas também, tinha perigo.

E, num lance genial, um pensamento lhe ocorreu: - Como nisto não pensei?

Ter uma horta no quintal, fale certo minha gente, isto é muito inteligente!

As mudinhas, foi plantando. Uma a uma ia regando. Os pezinhos pequeninos bem grandinhos iam ficando.

Mas, o irmãozinho, ainda pirralho, pisava a alface, amassava o alho. Que trabalho!

Não tinha outro jeito: tinha que cercá-lo.

Uma cerca muito alta garantia a segurança, dos tomates, do pepino das pisadas do menino. Eita guri traquino!

A menina adolescente se tornou muito prudente, tudo aquilo que colhia rapidinho escondia, do irmãozinho exagerado que demais tinha estragado. Tinha fome sem limite, era demais seu apetite!

Já passava outro ano e a caixa utilizando, os alimentos bem juntinhos, um a um ia guardando. O guri, agora moço, procurava o almoço, mas a caixa bem fechada lhe causava alvoroço:

- Estou ficando pele e osso!

Sua irmã, a sua amiga, muito franca, assim revida:

- Só comer é a sua vida. Já não pensa em outra coisa!

Estou cansada do trabalho, tanto a alface, quanto o alho, se eu não planto todo o dia, a barriga esvazia, trabalhando deste jeito, quem que fica satisfeito?

O menino entristecido até se deu por convencido, mas a fome, furiosa, mudou toda a sua história:

- Quero comer!

A caixa era trancada e a chave bem guardada, não podia esforçá-la, era este o argumento: 

- Esta é a Lei neste momento!

Noite e dia, dia e noite, e a fome como um açoite, balançava o menino entre o risco e realidade, mas, existia uma verdade, ainda tinha pouca idade.

Sua irmã, ainda amiga, se enchia de intrigas, muitas lutas, muitas brigas, mais as lutas com as lombrigas, tomou uma decisão: - Vou-me embora prá floresta!

- A floresta têm perigos, nem em pensamentos eu arrisco.

- Vamos, pare com isso!

- É a última vez que eu te aviso: de tudo o que existe, aqui pode ser até triste, mas, pelo que tenho ouvido, sobreviver fora, eu duvido.

E o menino encorajado, teve o tchau como último brado.

Cambaleante, ora certo, ora errante, ainda amigo, como antes, declarou desanimado:

- Agradeço os seus cuidados, muita coisa me fizeste, mas, não tenho outro jeito, agora, apenas o que resta, é enfrentar, ainda que enfraquecido, os riscos da floresta.

Foi-se o menino. Nenhuma notícia mais. Agora, estava tudo em paz?

O alimento, abundante, sobrava. Ela muito se alimentava, mas, para que isto adiantava?

Tudo agora era dela, é só dar uma olhadela: pepino, cebola e alho, até manga e maçã...tudo que era necessário para mantê-la sã.

Comia, comia, comia e não saciava...e o alimento rapidamente se estragava. O que fazer?

Então, lembrou-se do menino, meio fraco e franzino, quanto tinha de pepino, de tomate e de aspargo, grande era o seu encargo!

Será que sobreviveu?

Isto tudo era nosso, e, não, meu.

Os seus dias se passaram e, em seu quarto repousou, e, uma olhadela esperançosa, pela fresta da janela, incessantemente realizou: - o que será que aconteceu?

Mas, ele não voltou...


Qual dos dois sobreviveu?


Cesar Augustus Pereira de Paula
Sorocaba, fev 2016


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